João Guilherme Vargas Netto*
“Usarei as coisas fracas para confundir as coisas fortes.” I Coríntios 1,27
A primeira coisa que chama a atenção é a incapacidade de jornalistas, acadêmicos e comentaristas estrangeiros e brasileiros de dar um nome às grandes manifestações de junho no Brasil, o que decorre da surpreendente complexidade delas. Tais acontecimentos geram dois tipos de perplexidade: a inteligente, que procura compreender, analisar e sintetizar; e a burra que, mesmo sem entender, apressa-se a tudo explicar.
O movimento de junho não é nem Gênesis, nem Apocalipse, embora para uns e outros encarne as características desses livros bíblicos: começo do nada ou fim de tudo.
Dentre as contradições que o movimento fez aflorar, a mais espetacular é a que existe entre a sua forma anárquica, em multidões de um só, e o seu conteúdo estatista, já que a esmagadora maioria das reivindicações clamava pelo Estado provedor ou denunciava as falhas dele.
Passado junho e entrado julho, começamos a ver a necessária institucionalização dos movimentos, já que eles por si só não podem se manter em ciclos longos. Nessa transição, embora com açodamentos, as iniciativas institucionais vão abrindo seu caminho.
É muito cedo para compreender sua eficácia, sua justeza (na linha de interesse dos manifestantes) e seu alcance; é prematuro desenhar uma planta de edifício em pleno terremoto e ainda mais tentar construí-lo.
A força da institucionalização, hoje, é exatamente a disposição unitária das centrais sindicais de organizar o Dia Nacional Lutas, com greves e mobilizações pela pauta trabalhista e pela democracia, realizado em 11 de julho.
A data passará à história como aquela em que o movimento dos trabalhadores (e as instituições sindicais) ofereceu à sociedade brasileira, aos partidos, aos governos e a todo mundo o rumo efetivo da democratização e do progresso.
(*) Membro do corpo técnico Diap e consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores.
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